Não digo que era um sonho de menino, mas era um sonho já de alguns anos, 13 para se mais preciso. Altura em que me iniciei no atletismo em cadeira de rodas, decorria o ano de 2003, quando uns amigos da APD Braga me emprestaram um cadeira de rodas de atletismo, cadeira essa, já velhinha, mas que deu para eu sentir de novo o prazer de correr nessa altura e com o decorrer dos treinos e das competições comecei a sonhar um dia quem sabe estar nos jogos paralímpicos. Nestes últimos 13 anos muitas lutas travei, muitas horas de treino dediquei, muitas lágrimas deixei cair, mas muitos bons momentos fui vivendo em cima das minhas cadeira de rodas.

Este sonho acabou por não ser só meu, pois ao longo destes anos fui (arrastando) pessoas para dele fazerem parte, para me ajudarem a alcança-lo, é-me impossível dizer aqui o nome de tantos, ui mas foram mesmo tantos, que de diversas formas me foram ajudando nestes últimos tempos que precisaria de muito papel para mencionar o nome deles, não o vou fazer no papel, mas não à uma única pessoa que me tenha ajudado, que esse nome ou gesto não esteja gravado na minha memoria e para sempre permaneça no meu coração, as vezes fico com a sensação que não agradeço devidamente as pessoas, mas também dizem que aos amigos não se agradece. Ás vezes faltam-me as palavras, e no lugar delas eu meto trabalho empenho e dedicação. Está é a minha forma de agradecer a quem me ajuda, por mais partidas que a vida me pregue - e acreditem que foram muitas -  a minha resposta é trabalhar para alcançar algo melhor, mesmo quando tudo parecia que o mais certo e menos doloroso era desistir, mas como se pode desistir de uma coisa com a qual sentimos que foi para isso que nascemos? Não, esse não sou eu, e no dia que isso aconteça, deixar de lutar por algo, será no dia que parta para outro lugar e mesmo nesse dia, acho que o irei passar a tentar cá continuar.

Hoje, posso dizer que sou atleta paralímpico, o sonho tornou-se realidade, nestes últimos 20 dias vivi momentos, que uma vez mais, não vos vou conseguir expressar, foram momentos que só quem passa por eles consegue perceber. Aquela entrada no Estádio do Maracanã foi brutal e inesquecível! Momentos que me encheram e preencheram o coração e que me fizeram esquecer tudo de menos bom nos últimos anos.

Quanto à competição… bem, só o facto de ter estado nos jogos, por si só já era de uma satisfação enorme. Mas quem me conhece sabe que não faço as coisas só por fazer, gosto de as fazer bem, ou pelo menos da melhor forma possível com as condições que tenho. O objectivo para estes jogos era fazer duas finais, nos 100 e nos 400 metros, eram objectivos ambiciosos, pois eu no ranking mundial estava em 8º nos 100 metros e em 18º nos 400, teria que fazer as semifinais de forma perfeita para garantir a presença nas finais, e as semifinais correram na perfeição, garantindo a passagem directa em ambas as distâncias, e nos 400 metros, garanti ainda o RECORDE NACIONAL e o MEU MELHOR RESULTADO DE SEMPRE, na final dos 400 metros. fui o único atleta europeu a estar presente, deixando assim para trás o campeão europeu dessa distância, e o campeão europeu dos 100 metros que estava também a minha frente nos 400 metros, depois de garantir a presença nas finais. O objectivo era tentar chegar o mais alto possível, nos 100 metros fiquei em 6º lugar: subi assim dois lugares em relação ao ranking, e nos 400 metros fiquei em 8º onde subi dez lugares em relação ao ranking dos 400 metros! Prestações que me valeram dois diplomas olímpicos, e me deram ainda mais vontade de continuar a trabalhar para quem sabe em 2020 conseguir a minha segunda participação nos jogos paralímpicos, mais isso, bem isso será só daqui a 4 anos e até lá muito ainda tenho para fazer, agora, bem agora vou continuar a rever e saborear cada momento único destes últimos dias…

Momentos:

 

 

 

 

 

 

 

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