Reportagem do Portal AMMAgazine.pt sobre o Recorde do Guiness
 
Quando, por ocasião da Meia Maratona de Portugal, o Mário Trindade me disse – Carlos em Dezembro tens de ir a Vila Real – ainda não sabia o que se preparava.
Há algumas semanas o Mário liga-me e finalmente “descobre o véu”.
Confesso que fiquei preocupado….
Não punha em dúvida que o Mário iria dar tudo por tudo para bater o Recorde….
Mas, e os outros objectivos? Eram sem dúvida muito ambiciosos…
Com o aproximar da data do evento, e ao longo de diversas conversas telefónicas fiquei com a certeza que tudo se iria concretizar de acordo com os desejos do Mário.
 
Primeiro Objectivo cumprido
 
Quando, pelas 05:16, o Mário Trindade começou a rolar na pista da UTAD, um dos objectivos estava já conseguido.
De facto o seu principal patrocinador, Aprígio Santos (Parques do Mondego, Imobiliária SA), mais uma vez, mostrou a sua vertente solidária, pagando integralmente a carrinha que o Mário tentava conseguir para ofertar às duas irmãs açoreanas, Carmélia e Florinda, portadoras de “Osteogenesis imperfeita”.
A carrinha, que seguirá para os Açores por via marítima, será entregue pessoalmente pelo Mário na próxima semana.
 
Segundo Objectivo cumprido
 
Ainda em viagem a caminho de Vila Real, comecei a receber telefonemas de colaboradores e amigos que me diziam “O Mário está nas televisões…, são todos os canais abertos e os informativos pelo cabo a transmitir directos, apontamentos e reportagens”.
Nesse momento pensei “Será que finalmente acordaram todos? Será que as mentalidades começam a mudar? Será que não é só por ser o Dia da Pessoa com Deficiência? Será que vão realmente acompanhar até ao fim?”.
De facto todas as minhas dúvidas se desvaneceram quando ao chegar ao local, o João Correia (que estava na pista desde o início - cumprindo zelosamente as funções de “preparador técnico” da cadeira do Mário – me disse que todas as Tv’s se tinham comprometido a divulgar até ao final, assim como as rádios de âmbito nacional e regional.
De notar que todos estes meios, para além do aspecto desportivo, destacaram sempre o alerta dado pelo Mário para o problema das barreiras arquitectónicas e acessibilidades que, apesar de consagradas na lei não são cumpridas…
Também a inclusão pela igualdade de direitos foi muito destacada
 
Terceiro Objectivo
 
Ao decidir bater o recorde de “maior distância percorrida em cadeira de rodas”, o Mário teria de percorrer uma distância superior a 181.147 metros em 24 horas – o recorde estabelecido em 2001 por Rafael Emílio Léon Leblón em Sto Domingo de Guzman (Republica Dominicana) – o equivalente a 453 voltas à pista de atletismo da UTAD.
O recorde seria igualado no decorrer da volta 452.
Desde logo o objectivo seria bater o recorde, mas não aumentar muito a diferença, pois se o anterior levou 6 anos para ser ultrapassado, quanto maior a distância, menor a probabilidade de outro atleta portador de deficiência o tentar.
 
A título pessoal devo confessar que nunca imaginei encontrar em Vila Real (ou em qualquer outra parte do País) um “espectáculo de solidariedade” como o que me foi dado observar a partir das 13H30 (hora da minha chegada) até ao final.
 
Sendo o local escolhido uma pista integrada num complexo universitário, nunca faltou o elemento humano, fosse através de turmas das várias escolas superiores (desporto, enfermagem etc...), as equipas de rugby, futebol etc... que antes ou depois dos treinos, deram umas voltas à pista a acompanhar o Mário, os atletas que trocaram a realização de “séries” pela corrida longa, os praticantes de caminhadas que nesse dia escolheram o local para a sua prática, os professores universitários (e foram tantos…) que vieram apoiar e contribuir com as suas “doutas” opiniões para o bom desenrolar do evento, o muito público anónimo, sempre presente, sempre caloroso.
 
Quem estivesse de fora, teria oportunidade de ver um atleta em pleno esforço, sempre acompanhado por outros atletas.
 
Mas eu, que estive mais “por dentro”, pude também constatar a enorme “máquina” envolvida no projecto: os voluntários a vender rifas e no bar, a equipa de apoio (ultra completa com enfermeiros, fisioterapeutas, médicos, nutricionistas, bombeiros etc – presentes do princípio ao fim).
 
Sem pretender descriminar ninguém (e os outros envolvidos que me perdoem), mas algumas pessoas têm necessariamente de ser destacadas:
 
Eduarda Coelho
Treinadora do Mário
Muita gente ligada ao atletismo se recorda desta atleta, com feitos notáveis em pista – olímpica por 2 vezes (Barcelona e Atlanta), agora professora na UTAD.
Foi ela a pedra basilar para a preparação física e sofreu tanto ou mais que o atleta na obtenção deste recorde.
Esta dupla certamente terá ainda muitas outras “surpresas” na manga
 
Ricardo Diniz
O “navegador solitário” e “solidário”, organizou, divulgou, controlou, animou.
Sem dúvidas um elemento muito importante em todo o evento
 
João Correia
Acompanhado pela mãe, esteve sempre na primeira linha, realizando um trabalho impecável na preparação da cadeira (aplicação de resinas, verificação de pressão de pneus etc...) e de equipamentos (as luvas, fundamentais nesta modalidade, sempre a necessitarem de serem secas no interior etc...) para além da presença na pista, escolhendo sempre o local em que na sua abalizada opinião o Mário necessitava de uma palavra de incentivo
 
Os bombeiros
Oriundos das duas Corporações de Vila Real (Cruz Branca e Cruz Verde), para além do seu apoio no caso de eventual necessidade, foram eles que controlaram o número de voltas à pista.
Rodando as suas equipas, nunca os seus elementos regatearam incentivos e aplausos à passagem de cada 400 m
 
A namorada…Teresa
Suporte fundamental.
A cada volta dada, a frase “vamos lá amor…” foi a mais ouvida ao longo das horas
 
 
Finalmente a prova…
 
 
A parte da manhã foi um pouco difícil, devido ao frio e especialmente à “morrinha” que se fez sentir, a roupa ficou molhada, o que provocava dores fortes nas costas.
Mas nem isso desanimou o “herói”.
 
Nesta fase foi acompanhado na pista por diversas entidades, nomeadamente o Presidente da Câmara, o Vice Presidente - Domingos Madeira Pinto (que correu) e uma Vereadora – Dolores Monteiro (que pedalou em bicicleta).
 
De tarde já com um calor moderado, com o passar dos metros a forma física e anímica foi em crescendo, o que se manteve até ao final.
 
Com o aproximar do final (que com a média realizada apontava para cerca da meia –noite), muito mais gente se juntou na pista.
 
Os últimos quilómetros foram feitos na companhia de muitos ciclistas e atletas.
 
Um cordão humano quase deu a volta à pista (e podia ser maior se muitos tímidos – ou friorentos) não tivessem optado por permanecer em locais mais abrigados.
 
Finalmente a meta estava à vista, o recorde foi igualado e ultrapassado.
 
Mário Trindade percorreu no total 182.400 metros no tempo de 18H53H00
 
Muitos aplausos marcaram este momento
 
As televisões estavam todas lá…. Também elas tinham cumprido….
 
(Curiosamente, também em Espanha e outros Países a notícia foi difundida)
 
No dia seguinte ainda era notícia, talvez agora sim, as mentalidades mudem…
 
Tive a honra de empurrar a cadeira do Mário Trindade de volta às boxes e de o ajudar a sair da mesma.
 
O estado físico (verificado depois no hospital – onde foi, a conduzir ele próprio o seu carro) estava normal.
 
Ao longo de todo o esforço a TA manteve-se sempre regular com valores na ordem dos 110 / 80.
 
Na manhã seguinte o cansaço fazia-se notar mas a vida depressa regressou à normalidade.
 
Temos mais um Herói em Portugal !!!
 
Não se esqueçam !!!
 
Balanço final = 3 Objectivos todos integralmente cumpridos
 
Carlos Viana Rodrigues
 
 

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